domingo, 5 de abril de 2009

Orgulho e Preconceito

Hoje em dia eu nem discuto mais preconceito com ninguém. Não sinto esta necessidade: parece que já expliquei demais para o mundo sobre o que eu acho disto, é repetitivo e o assunto parece encerrado. Hoje em dia é muito fácil e bonito falar que é errado ser preconceituoso. Também às vezes eu me pergunto se discutir ajuda ou atrapalha: ajuda a esclarecer às pessoas que nada disto deveria ser visto como algo anormal, o que quer que seja uma coisa anormal, mas atrapalha porque, quando a gente precisa discutir, precisa ressaltar onde estariam, subjuntivo, as diferenças: se ninguém falasse que ser negro, judeu, gay, muçulmano ou fã de Engenheiros do Hawaii, ninguém ouviria isto desde que nasceu, então ninguém cogitaria pensar que existe uma diferença. Papinho meu muito bonito na teoria, mas muito impossível na prática: o ser humano é naturalmente preconceituoso (acho que uma decorrência de ser naturalmente competitivo). Tem isto também: além de eu estar cansado e não saber qual o jeito certo de contribuir, eu também ando achando que é inútil falar disto. Aquela minha coisa de acreditar pouco na transformação das pessoas ainda que eu considere que conheça duas ou três histórias incríveis de pessoas que se transformaram para algo melhor e maior.

Preconceito com religião eu nunca pensei a respeito. Quem discute que alguém é desse ou daquele jeito porque é, sei lá, judeu, a meu ver é alguém que discute o mundo num nível torcida de futebol. Porque é uma questão meramente cultural. Com homossexualidade eu até entendo de onde surge aquele papo do "um homem foi feito para estar com uma mulher e vice-e-versa". Um cara desses também é um torcedor de futebol, com a diferença de que ele tenta fundamentar o troço com uma desculpa biológica. Eu tenho a ciência a meu favor, acho que é isto que eles pensam, mas, de verdade, é uma questão cultural disfarçada: não tem nada de científico achar que o homem foi feito com qualquer objetivo, é algo meramente criacionista porque aí Deus teria criado a gente com um propósito (de ser heterossexual, ter uma família e pagar dízimo, sei lá). Não tem nada daquela coisa da ameba, que virou macaco e virou um homem, que é um tipo de obra do acaso com o parâmetro da perpetuação da espécie. Homossexualidade pra mim é isto: outro acaso e acaso não tem juízo de valor.

Problemas com negros são os mais misteriosos: porque é algo que existe, ta aí e a gente convive sendo inevitável você saber que aquela pessoa ali tem esta ou aquela cor de pele. A gente convive com negros e brancos e sabemos que ambos fazem as mesmas coisas (pro bem e pro mal), ou seja, qual é o problema? Claro que eu sei que existe aquela coisa da cultura escravocrata e bla bla bla, mas nunca pareceu argumento. Mas acho que neste caso eu nem sei explicar muito porque nunca pensei demais na questão do negro. Minha causa definitivamente não é. E eu não tenho amigos negros, não de convívio realmente próximo. Nunca fiz sexo com uma negra. Tenho curiosidade, acho bonito, me da cócegas nas partes baixas, etc*. Mas nunca rolou. Ano passado quase rolou, a mulher tava dando muito mole pra mim e eu não queria. Talvez porque eu seja racista e não saiba**. Ou talvez porque eu não queria mesmo. Aí uma hora eu resolvi que queria, mas aí foi ela quem não quis mais. Ela prometeu semana que vem, mas na dita "semana que vem" ela tinha voltado com um tal de ex marido. E desde então eu decidi que ex marido é uma raça causadora de toda a desgraça da face da terra. Desconsiderando que eu é que fui bundão e esnobe em primeiro lugar. Mas enfim: eu estava todo pretencioso tentando fazer um belo post sobre preconceito, aí comecei a falar de fornicagem (sic) e estraguei tudo.


* - Uma vez ouvi alguém dizer que era algo racista você dizer "morro de vontade de fazer sexo com uma negra". Porque era como você dizer que é diferente só porque ela é negra. Eu discordo deste argumento: primeiro que se é algo que me deixa de pau duro, é porque pra mim é algo diferente sim. Segundo que ser negra é uma característica física tanto quanto ter peitão, ter peitinho, ter bundona, ter bundinha... e ninguém reclama quando alguém explica se gosta mais de bundona ou de bundinha.

** - Na verdade, eu tinha os meus motivos para isto... ela trabalhava comigo e eu sou esse tipo de pessoa que nunca pegou uma colega de trabalho, nunca pegou alguém porque era o cara nerd, etc...

E não estou dizendo que não tenho meus preconceitos. Eu tenho muitos. Eu analiso e julgo pessoas em menos de 5 minutos, o que é muito feio. O que eu digo é que não sou dado a estes preconceitos clássicos mesmo.

6 comentários:

Jaque disse...

Preconceitos clássicos. É exatamente isso. A gente classifica preconceitos em ordem de gravidade e acaba desconsiderando os itens que estão no final da lista.

Roberta disse...

ai agora que tava ficando bom acabou o post :/

Clayton Ferreira disse...

Acho que eu não sou mais alguém que sabe concluir assuntos.

Sakana disse...

eu meio que divido o mundo entre pessoas que vão à micareta e pessoas que não vão à micareta. e atribuo um juízo de valor a esses grupos. isso é preconceito? =) [e quanto à parte dos éks, eu concordo em tudo: ex-marido, tanto os atuais quanto os passados, são todos uma bosta.]

Gobe disse...

Adoro a palavra fornicagem..rss

Esse negocio de "é só n falar sobre q tal coisa deixaria de existir", considero uma falácia. Pq, em certas situações, o q sentimos é o típico preconceito ENRAIZADO, do tipo q nem nos damos conta q temos. Racionalmente, sabemos q n deveríamos ter preconceito com tal coisa, mas temos um sentimento de estranhamento ao nos depararmos com ela.

Fiquei uns 10 min tentando achar um bom exemplo mas nada me vem a cabeça. Qdo lembrar de algo, volto aqui. Acho q td aquele gim n está me fazendo bem..

Aline disse...

Eu tambem acho que os preconceitos clássicos são contruidos, e nao "vem geneticamente pregados" em nós. Sabe, é aquela coisa de desde quando tu é criança ouve teus pais falando "aquele preto vagabundo fez isso", "olha que coisa do capeta aquele cara que gosta de homens", sabe, esse tipo de coisa.. isso vai sendo jogado dentro de nós da mesma forma que nós aprendemos que nao se deve usar cueca por cima da calça. Não to aqui pra defender o preconceito, mas pra tentar achar uma fonte pra ele. E pra falar também que mesmo tendo esse tipo de criação, a pessoa pode simplesmente nao desenvolver os preconceitos clássicos (religião, orientação sexual, raça, futebol, ...) e ser mais mente aberta.

Pra terminar, acho que hoje é tão moderninho vc virar e dizer Eu Não Tenho Preconceitos, que pra pessoa se encaixar nessem meio, ela engole os preconceitos, finge q eles nao existem, mas continuam sendo preconceituosas do mesmo jeito. Só que não assumem, sabe? ai vem a hipocrisia, e blablabla.