sábado, 6 de novembro de 2010

Investindo no futuro

Eu quis comprar ações da Petrobrás. Durante esta oferta pública extraordinária e recente. Não comprei. Perdi o prazo. Eu queria investir no futuro. O futuro do Brasil. O Brasil é o país do futuro e eu quis investir nisso, no futuro e no Brasil. E o petróleo, vocês sabe, é nosso. O Brasil é o país do futuro e o futuro é nosso, eu quis investir nisso. Eu quis comprar o futuro e não comprei porque perdi o prazo. Queria comprar ações e ser dono de uma parte disto. Do futuro. E do Brasil. Eu imaginei que se gastasse algum dinheiro, sei lá, uns R$ 10.000,00, em ações, eu seria dono de uma parte da Petrobrás. Imaginei minha aposentadoria: o futuro. Eu, já velhinho, mal humorado, praguejando e escarrando contra as crianças de hoje, que não são como as do meu tempo. No meu tempo as crianças já não tinham modos e nem respeitavam os mais velhos. A gente já jogava video game. Então eu praguejaria porque as crianças de hoje não são como no meu tempo, o que quer dizer que elas já não jogam mais video game. Mas eu ainda não sou velho então não sei se as crianças de quando eu vor velho já não estarão mais jogando video game. Na verdade a minha lógica não funciona porque as crianças de hoje ainda jogam video game. As crianças de hoje são como as crianças de ontem, mas eu não sei como serão as crianças de amanhã. E amanhã eu estarei velho: mal humorado, praguejando e escarrando contra as crianças de hoje (os adultos de amanhã?). Era este o futuro que eu estaria comprando e investindo, através da Petrobrás e do petróleo (que é nosso, do futuro, do Brasil e que tem uma parte representada pelas ações que não comprei porque perdi o prazo). Com R$ 10.000,00 eu talvez fosse dono de uma plataforma de petróleo no meio do mar, ao estilo Petrobrás. E no futuro eu reivindicaria a minha parte e moraria nela, a plataforma de petróleo no meio do mar. Não sei se tem crianças em uma plataforma de petróleo, nunca estive em uma. Perdi a chance de estar ao perder o prazo para investir nisso. Supondo que não tenha crianças, meu plano é perfeito: no futuro estarei mal humorado, praguejando e escarrando contra as crianças de hoje (o que farei mesmo elas jogando video game como as crianças do meu tempo) porque elas serão os adultos de amanhã (concursados ou prestadores de serviços em uma plataforma de petróleo no futuro que eu teria investido). Como eu perdi o prazo, tudo isto virou suposição e é por isso que eu só tenho uma meia dúzia de idéias que estou repetindo indefinidamente sobre este assunto. Ou seja: não é possível ir muito longe na hora de falar sobre o futuro que eu não investi.

Aí eu continuei pensando: o petróleo é nosso!, já disse Getúlio Vargas (incluindo a exclamação). Depois, o Brasil é o país do futuro. Mas o futuro a Deus pertence. Então é daí que saiu esse papo de que Deus é brasileiro. Ou foi uma confusão: ele é só acionista da Petrobrás e ninguém entendeu isso.

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