Eu odeio comprar roupas. Muito mesmo. Eu até gosto da idéia de estar bem vestido, mas o esforço que são as horas procurando roupas que te façam parecer gatoso e estilão não compensa. Nunca. E roupa, é aquela coisa, é algo que inventaram pra você tirar. Pra tomar banho e para trepar, claro que é dessas coisas que estou falando. Para trepar durante o banho, eventualmente. Aí eu vou na numa loja C&A procurando pelo honesto, rápido e barato. Posso ajudá-lo? Claro, me ache roupas o mais rápido possível. Mas antes de achar roupas, ela quer que eu faça um cartão e a cara de cachorro que passaram o dia inteiro mijando na cara e agora só te pede uma mordida da sua coxinha, sem mijo desta vez, faz você ter pena e abrir aquela concessão.
- É rápido?
- É rápido sim, 15 minutinhos.
E beleza mas eu esqueci que ela era mulher. E que 15 minutos-mulher dentro de uma loja de roupas equivalem a 90 minutos-homem dentro de uma loja de roupas. Porque ela acha que em quinze minutos consegue me fazer responder todas as perguntas já catalogadas pelo ser humano. Qual o seu nome? Seu endereço? Seu CPF? Seu telefone? Seu endereço de novo? Qual seu prato de comida preferido? Qual o nome do 3o filho do rei Luis XV? Qual é o segredo do universo, com 5 exemplos de aplicação prática? E eu ficando puto porque acho que eles aprenderam com a ditadura militar ou merda do gênero, enquanto as minhas células morriam, meu cabelo caía e meu espírito descolava do corpo rumo à luz - será que precisa comprar roupas no além? Bom, eu tentei responder tudo. Menti o quanto pude, por puro ódio ou compulsão. Pediram telefones de referência. Tem que ser número fixo. Ninguém tem telefone fixo hoje em dia. Quem tem, não passa para você: telefone fixo é um brinde que vem com TV a cabo ou internet, mas que a gente não sabe pra que serve esse brinde. Tipo comprar uma Mercedez que vem com um chaveiro "I love my Mercedes". A gente sabe bem que quem tem Mercedez não usa chaveiro da Mercedez - ou não deveria - e que quem tem TV a cabo não usa telefone fixo. Menti dando números errados.
Depois que preenchi o cadastro, ela removeu os eletrodos de eletro-choque do meu corpo e me liberou para fazer minhas compras. Aí bora comprar roupas de inverno rigoroso. Claro que não há roupas de inverno rigoroso na cidade. Eu já sabia que não ia encontrar isto. Mas, vejam, vou viajar a trabalho (sic) e a história é de que está fazendo um frio de encolher o pau e as bolas até o tamanho de prótons e elétrons, então vamos encontrar pelo menos algo digno, em várias unidades, para vestir em formato de camadas. Só que o conceito de moda digna da C&A me pegou de surpresa. Vocês não tem idéia da quantidade de blusas com estampas escrito NEW YORK é maior que a quantidade de perguntas do formulário seja nosso amigo em troca de parcelamentos e um cartão cafona que eu estava preenchendo. Acho que se eu fosse para Nova Iorque, eu deveria comprar isto LÁ, e não na C&A. Achei umas blusas para vender. Eu gostei de duas. Eram importadas. Uma não tinha do meu tamanho. Elas eram importadas, talvez dos Estados Unidos, e não tinham nada de mais escrito. Se fossem "importadas" da C&A, teriam escrito "New York". Esta é a lógica.
Fui pagar minha blusa e minha calça e passei no caixa. Oh, você é um cliente-cartão-cafona-que-parcela, passe ali. "Ali" tinha alguma fila e ninguém atendendo. Minha vez chegou depois de todas as velhas, grávidas, aleijados, leprosos e fãs do Fresno passarem na minha frente. Tivemos um problema com seu cadastro: não encontramos a pessoa de referência que o senhor indicou neste telefone.
- Bem, é o telefone que eu tenho.
- Você não pode indicar outra pessoa.
- Não eu não posso.
- É que não podemos concluir o seu cadastro assim... além do mais...
- Olha, eu não quero mais esse cartão. Eu quero é pagar e ir embora. Que tal?
- Não, pera, a gente vai dar um jeito!
Por que não deu antes, então?
Tá aqui, desculpa pela demora, moço. Se eu não pegar um monte de mulher com as roupas que eu comprei com você, eu volto pra passar esse cartão na fenda da sua bunda sem parar até você fazer um barulho de máquina registradora bem convincente.
domingo, 29 de março de 2009
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7 comentários:
"Se eu não pegar um monte de mulher com as roupas que eu comprei com você, eu volto pra passar esse cartão na fenda da sua bunda sem parar até você fazer um barulho de máquina registradora bem convincente."
Ai, Clay, é por isso que eu gosto tanto assim de você.
:*
cara, a loja de inverno é caríssima!!! entrei lá uma vez só e saí com uma sacolinha que custou quase um rim. ou dois. mas quem pagou foi o éks. aí não tem renner? lá tem roupas de inverno, eu vi ontem. quase comprei um casacão que não vai me servir pra nada, a não ser pra eu ficar admirando a beleza dele dentro do armário. porque, pra mim, é pra isso que roupas de inverno servem. pra eu ficar olhando pra elas e imaginando um lugar legal onde eu poderia usá-las. mas, sério, vai na renner. ou então deixa pra comprar num daqueles outlets. o problema é sobreviver ao frio até chegar lá.
A técnica de dar número de telefone errado é especialmente satisfatória quando usada com pesquisadores que te param no meio da rua. Geralmente de alguma escola de informática roleta.
Mas o que eu gosto mesmo é de falar "espera só um pouquinho" pra operador de telemarketing e largar o telefone. Meu prazer sádico e cronometrar quanto tempo eles demoram pra se tocar e desligar.
pra comprar roupas de frio antes de ir pra londres. foi em janeiro, e era o único lugar onde se podia achar algo que realmente esquentasse.
Eu sempre uso aquele "nao meu bem, eu ja tenho o cartão :D", ai elas nao te oferecem mais! constuma funcionar sempre...
Li uma frase muito boa sobre roupas: "Um vestido não faz sentido a menos que inspire os homens a querer despi-la". O contrário tb é verdadeiro.
Das suas idas a C&A, por que logo nessa resolveu se render ao cartão? Ou será q foi sua primeira vez? Poise, lá é dificil encontrar qualquer coisa q n tenha purpurina ou estampas sem sentido.
Vc é igualmente gracinha mal-humorado
Sim, provavelmente por isso e
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