Aí é isso aí, eu me lembro quando fui para São Luis fazer um bico no começo do ano. Aquela, capital do Maranhão. Terra dos lençóis maranhenses, da invasão holandesa, terra da balaiada. Deu ao Brasil a cantora Alcione e Zeca Baleiro. São Luis é a dos semáforos com acabamento de azulejo e daquela lagoa que ficava atrás do hotel que eu morria de medo.
Acho que é em São Luís mesmo que os Sarney moram, ainda que aquele maior de todos seja senador pelo Amapá. Não ligo muito pro Sarney, não sei por que é que as pessoas ficaram tão putas com ele ali. Ele fez um monte de merda e voltou, aí fez outro monte de merda e a gente vai trazer ele de volta se houver oportunidade. Porque ele é um literário e a prerrogativa de ser um literário é ter habilidades em administração pública. Ou o contrário. O Sarney é protagonista de uma das piadas que eu mais contei durante minha infância: não lembro bem como ela era, só lembro que eram vários caras de vários países discutindo heróis nacionais, algo como "no meu país, fulano perdeu uma perna na guerra e se tornou um grande defensor do desarmamentismo". E quando chegava na vez do brasileiro falar, ele dizia "no meu país, um homem foi decaptado, implantaram um coco no lugar da cabeça, colocaram um bigode e ele se tornou presidente da república". Não é porque eu achava isso realmente engraçado, é mais porque era a única piada que eu sabia contar.
Outro dia eu estava com uma amiga na rua e uma criança, com uns 11 anos de idade, no máximo, me parou tentando me vender uma faixa escrito FORA SARNEY. Respondi que eu não queria não. Expliquei que, na verdade, eu adorava o Sarney. Não cheguei a dizer, mas acho que me referia ao escritor. Minha amiga sugeriu perguntar para a criança sabia quem era o José Sarney. Prefiri deixar pra lá, se fosse para discutir algo com ela, que fosse o Bob Esponja. Já que José Sarney é um assunto da minha infância. Sinto saudade daquilo lá: o cruzeiro, o cruzado, o cruzeiro novo, o cruzado novo, a volta do cruzeiro velho, nem sei a ordem das coisas. A hiperinflação, o overnight e toda essa alegria: caos nos supermercados e os carros a álcool que não pegavam no frio nem com reza brava. Depois veio o Collor e a abertura pro mercado externo. Aí veio o Itamar, com ele o FHC e a estabilidade da moeda: logo as pessoas perceberiam o valor real do dinheiro e dos produtos.
Então o Lego deixaria de ser um brinquedo financeiramente acessível para minha família, forçando minha desistência da infância e entrada forçada na adolescência. Eu teria passado mais uns anos montando Lego ao invés de correr atrás das menininhas se aquele sociólogo metido a economista dos infernos assim tivesse permitido.
Eu tenho idade suficiente para lembrar do Figueiredo, na verdade, mas eu não lembro dele. Não aconteceu na minha vida o momento Clay, este é João Baptista Figueiredo, presidente da república. Então eu certamente ignoro isso. Eu tinha 5 anos quando Tancredo Neves foi eleito.